Meios Operacionais Históricos

Nem a debilidade do arquivo nem o limite da paciência dos visitantes consentem a enumeração exaustiva de todas as viaturas e outros equipamentos que, desde então, ajudaram a escrever, por mais de um século, a História da Associação. Como tal, apenas vamos destacar as de maior significado e mais antigas:

O primeiro material adquirido pelos Bombeiros de Paço de Arcos, foi uma bomba fabricada por G.A. Leipzig, que ainda se orgulham de possuir no seu património histórico, cuja idade se identifica com a da própria Associação. A “Joaninha”, como a baptizaram para sempre, nunca faltou à chamada, no combate ao fogo: na fábrica de Conservas e no Bairro Clemente Vicente, ambos no Dafundo; na Fábrica de Pólvora de Barcarena; na Serra da Carregueira. Um festival de eficiência no Palácio de Queluz, onde funcionou nove horas ininterruptas, seguidas de rescaldo, das oito às dezassete horas, depois de todas as suas companheiras se terem avariado.

Logo após a “Joaninha”, mas equipamento veio a fazer História: um primeiro carro de material estivera já no simulacro de incêndio de 1894.MAI.13. “A corporação dos bombeiros de Paço d’Arcos acabada de ser dotada com um carro de salvação que a direcção mandou construir segundo o desenho elaborado pelo comandante José d’Oliveira Raposo. Este carro é muito elegante; n’elle se conduzem os principaes utensílios para um primeiro ataque”. Em 1935, uma decisão irrevogável da Direcção, procedeu-se à venda do carro de tracção braçal pela quantia de duzentos escudos.

No primeiro semestre de 1927, os bombeiros começaram a sonhar com a motorização. O primeiro veículo motorizado foi um Ford, pai de todas as viaturas motorizadas da Corporação. O custo foi de 11.029$80, pago em 3 prestações de 3.666$60. Quase um ano depois de se ter adquirido o chassis, estava concluído os trabalhos de adaptação da viatura para pronto-socorro. A sua madrinha foi a menina Mara Beatriz de Abreu Horta, de dois anos de idade. Anos mais tarde, foi alterado para auto-transporte, rebaptizado com o nome de “Humanitário”. Impiedosamente “considerado como sucata, e depois de ter extraído os aproveitáveis”, aberto concurso para a sua venda.

Mas o sonho da motorização abrangia, além do pronto-socorro, uma bomba que pudesse optimizar o equipamento daquele. Para tal, a Direcção da Corporação decidiu pedir à Câmara Municipal de Oeiras para efectuar a compra de uma bomba Delahaye, ficando a Associação com a responsabilidade do seu pagamento em prestações anuais a fixar em harmonia com os subsídios a receber da mesma. O tempo varreu a fábrica Delahaye, mas não apagará os feitos desta bomba, actualmente incluída no património histórico da Associação, ao lado da sua irmã mais idosa, a Joaninha. Duas venerandas amigas, na juventude e na velhice.

Depois da viatura Ford, seguiu-se a compra de um automóvel Renault, para adaptação a pronto-socorro ou auto-maca. Este Renault viria a ser o pronto-socorro “José Raposo”, baptizado em 1932.ABR.17, com todo o cerimonial a que tinha direito.

Tomado o gosto pelas viaturas a motor, logo em 1930 se decidiu proceder à adaptação de um chassis de marca “Chandler”, para auto-maca, baptizado conjuntamente com o pronto-socorro, no dia da inauguração do quartel da Rua Costa Pinto. Esta é a curta história do Chandler vendido em 1935 por sete mil escudos, aos Bombeiros Voluntários de Peniche.

A terceira viatura motorizada foi oferecida por Edgar Chancellor. Em 1932, ao regressar a Inglaterra, quiz patentear o seu reconhecimento à terra que tão bem o acolhera, prometendo enviar um carro à Corporação, da qual sempre fora sócio dedicado. Em 1934.JUN, a Associação recebeu uma carta a informar de que tinha adquirido um chassis, para ser adaptado em auto-maca. Esse chassis era a de um Rolls Royce, fabricado em Londres em 1913 (Silver Ghost se chamava o modelo de então, segundo cremos). Após dez meses a adaptação estava concluída. O auto-ambulância Rolls Royce baptizado com o nome de “Humanitário”, entrou em serviço da Corporação, ao cuidado de cinco bombeiros que, a seu lado pousaram, em data tão festiva: José Marques Pinhanços, Renato de Carvalho, Vítor Santos, Joaquim Gutierres de Araújo e Armando de Oliveira. Dada a falta de espaço para arrecadação do material, foi posto à venda. Em 1963.MAR.5, foi decidido vendê-lo conjuntamente com um Oldsmobile, pela quantia de sete mil escudos.

De realçar que a viatura foi reconstruída em 1968, continuando a ostentar a mesma matrícula, AC-91-72, que fez vibrar os corações paço-arcuenses. Depois de restaurado, tal e qual na sua forma original, tem ido a diversos Rally’s de automóveis antigos, dos quais se destaca o I Rally de Tróia (1988), onde conquistou o primeiro prémio de classificação.

Quantos sentiram alívio para o seu sofrimento, ao contemplarem esta nobre matrícula, carregada de História que, durante anos, viveu as alegrias e tristezas dos bombeiros de Paço de Arcos ? Distinto Silver Ghost, desde 1913; benemérito “Humanitário” a partir de 1935; gaiteira D. Elvira, de 1968 em diante. Bem hajas, ex-bombeiro. Sê eternamente feliz.

 

in “Os Bombeiros de Paço de Arcos – 1893/1993” de Rogério de Oliveira Gonçalves.

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